All-Negro Comics

Considerada uma das primeiras, senão a primeira, revista em quadrinhos criada inteiramente por artistas e escritores negros nos Estados Unidos, na década de 1940.

A revista traz as seguintes histórias e seções: Ace Harlem, história policial ilustrada por John Terrell, protagonizada por um detetive afro-americano; Dew Dillies, uma história humorística criada por Cooper, protagonizada por seres infantis; Lion Man, uma aventura ambientada na selva africana, desenhada por George J. Evans Jr.; Sugarfoot, história de aventura humorística desenhada por Cravat, sobre dois músicos itinerantes; e Lil' Eggie, também ilustrada por Terrell, sobre um marido submisso.

Além dessas histórias, a revista inclui uma página de cartuns intitulada Hep Chicks on Parade e uma história em texto de duas páginas chamada Ezekiel's Manhunt.

A introdução do editor, Orrin C. Evans, enfatiza que todos as artes e textos foram feitos por artistas negros estadunidenses, sublinhando uma ideia de pioneirismo para a publicação no contexto dos quadrinhos da época.

Há também um anúncio para a segunda edição da revista, que, no entanto, nunca foi publicada.

Os desenhistas de All-Negro Comics #1 eram todos afro-americanos, artistas de quadrinhos em uma indústria dominada majoritariamente por brancos nos anos 1940. Aqui estão alguns detalhes sobre cada um:

Orrin C. Evans - Jornalista afro-americano, Evans começou sua carreira como repórter em um grande jornal dos EUA, o Philadelphia Record. Enfrentou racismo ao longo de sua vida, incluindo ameaças de morte por reportagens que expunham a segregação no exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Após o fechamento do Record, Evans decidiu investir em publicações de quadrinhos. Fundou a All-Negro Comics em 1947, considerada uma das primeiras - senão a primeira - revista em quadrinhos criada por e para afro-americanos. Ele queria criar um espaço onde os heróis negros fossem representados de forma positiva e empoderadora, algo inédito na época. Orrin tentou publicar uma segunda edição, mas foi impedido de adquirir papel devido à pressão de concorrentes brancos. Apesar do fim prematuro da All-Negro Comics, o trabalho de Evans foi pioneiro ao abrir espaço para a representação negra nos quadrinhos.

John Terrell - Embora as informações específicas sobre a vida de Terrell sejam limitadas, ele é creditado como o desenhista de Ace Harlem, uma história de detetive que representava positivamente um policial afro-americano.

“Cooper” - O(a) artista creditado(a) como Cooper e que desenhou The Little Dew Dillies tem ainda menos informações biográficas disponíveis, mas sua contribuição foi significativa ao criar uma história infantil com personagens mágicos que só podiam ser vistos por bebês.

George J. Evans Jr. - Irmão do editor Orrin Cromwell Evans, ele foi o principal artista por trás da história Lion Man and Bubba, que tinha um herói afro-americano altamente educado, enviado em uma missão pela ONU ao continente africano África. George J. Evans Jr. foi uma figura chave no desenvolvimento da revista, trabalhando em estreita colaboração com seu irmão.

“Cravat” - Também é um(a) artista pouco(a) conhecido(a) fora de sua contribuição para All-Negro Comics. Desenhou a história de humor Sugarfoot, que procurava desconstruir as tradições dos minstrel shows, apresentando uma forma mais positiva da cultura afro-estadunidense.

“Len” - Outro(a) artista enigmático(a), assinou os gags humorísticos Hep Chicks on Parade, uma série de ilustrações estilizadas com mulheres da moda.

As informações biográficas detalhadas sobre eles são escassas, o que expresa tanto a marginalização dos artistas negros no período quanto a pouca documentação da contribuição afro-americana nos quadrinhos da época. Esses artistas faziam parte de um esforço consciente para criar representações diversas da experiência afro-americana em um meio que, na época, raramente oferecia tais oportunidades.

A tradução ficou a cargo do historiador e pesquisador de quadrinhos Márcio dos Santos Rodrigues, que já traduziu para a Moby Dick, Skript, Pipoca & Nanquim, entre outras. Foi curador, editor e tradutor de quadrinhos de autoria africana da Skript Editora e um dos principais responsáveis pela difusão de produções em quadrinhos do continente africano no Brasil através do Canal Quadrinhos Africanos. Colabora com revisões de obras em quadrinhos de temática africana, afro-brasileira e afro-americana. Márcio é doutor em História pela Universidade Federal do Pará e pesquisador do grupo de pesquisa NEÁFRICA: Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão sobre África e o Sul Global, da Universidade Federal do Maranhão, atuando nas linhas de pesquisa Estudos Africanos e Estudos Afro-brasileiros. Atualmente é docente externo do Projeto Ensinar de Formação de Professores da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

A edição brasileira de All-Negro Comics ficou sob a responsabilidade do editor, professor e historiador Rodrigo Moraes , que já trabalha na restauração e publicações de quadrinhos de teor histórico desde a criação da Clio Editora. Atualmente, ele publicou O Homem Infernal, uma história de true crime de 1937, e está finalizando outras obras, como O Outro Mundo, também iniciada em 1937, e Terras Extranhas, de 1936. Todas diretamente saídas das páginas da revista O Tico-Tico.

A Clio Editora está para também publicar material estrangeiro, como Sheena e Miss Fury, entre outros. Trata-se de uma editora com foco na publicação de histórias em quadrinhos “históricos”, tanto nacionais quanto internacionais, e de clássicos em domínio público, que passam por um tratamento digital e restauração para garantir a qualidade que a obra merece — sempre respeitando a originalidade. Além disso, a editora publica livros de autores independentes, em formatos físico e digital, buscando a sustentabilidade por meio da impressão sob demanda.